Os répteis são vertebrados amniotas (põem ovos com casca calcária rija) e que possuem pele resistente e recoberta: ou com grandes placas córneas que formam uma carapaça couraçada (tartarugas) ou então providas de simples e numerosas escamas epidérmicas de queratina (lagartos e serpentes). A grande maioria dos répteis está bem adaptada à vida terrestre. Sendo animais ectotérmicos, a sua temperatura corporal é obtida e controlada pela exposição solar directa (heliotermia) ou então o animal aquece por contacto com um substrato (pedra; solo) ou fluido (água) minimamente aquecidos (tigmotactismo). Porém, algumas espécies vivem na água ou perto dela.
Na Península Ibérica, são duas as tartarugas de água doce (vulgarmente conhecidas por cágados) e duas as serpentes (cobras-de-água) que usam os charcos temporários mediterrânicos. As mesmas espécies podem ocorrer no Sudoeste de Portugal, a saber: o cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), o cágado-mourisco (Mauremys leprosa), a cobra-de-água-viperina (Natrix maura) e a cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix astreptophora).
Os cágados são basicamente carnívoros e frequentemente necrófagos. Nos charcos temporários e pequenas lagoas alimentam-se de girinos de anfíbios, crustáceos e vermes aquáticos. Se bem que a sua dieta seja oportunista, na qual predomina a componente animal, ela também inclui plantas aquáticas, sobretudo no verão e no caso do cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis). Esta espécie tem uma taxa de consumo de girinos maior do que o Mauremys leprosa e preda inclusivamente sobre larvas que ainda têm tamanhos mínimos.
O cágado-mourisco M. leprosa distribui-se pelo Sudoeste de França, Península Ibérica e Noroeste de África. Está presente de modo quase contínuo no Sul de Portugal, ocupando a maioria das zonas húmidas e, assim, também é mais frequente no Sudoeste Alentejano. Com efeito, nesta zona muitos charcos temporários estão a ser destruídos ou transformados em charcas de rega mais fundas e permanentes, que são frequentemente colonizados por M. leprosa, pois a E. orbicularis é mais exigente com a qualidade do habitat.
A distribuição da cobra-de-água-de-colar N. natrix astreptophora abrange a Península Ibérica e o Norte de Africa. Na região mediterrânica de Portugal, especialmente nas áreas mais áridas do Alentejo e do Sudoeste, a sua distribuição é descontínua e pode considerar-se uma espécie mais escassa, onde aparece nas galerias ribeirinhas e nos meios aquáticos palustres. A sua dieta baseia-se (mais de 80%) em anfíbios adultos (e.g. Triturus sp., Discoglossus galganoi, Bufo spinosus, Epidalea calamita e ranídeos) e secundariamente em peixes, e em larvas de anfíbios, vermes e outros vertebrados. Muito mais aquática, abundante e comum é a cobra-de-água-viperina (Natrix maura) cuja plasticidade ecológica depende fundamentalmente da ocorrência de pontos de água doce de todo o tipo, desde charcos temporários, lagoas, rios e sapais. Facilmente coloniza os meios artificiais como charcas para gado, represas e albufeiras de rega e barragens de construção recente desde que disponha de presas. A sua alimentação consiste fundamentalmente em peixes e anfíbios que caça dentro de água.
Segundo a Directiva Habitats que enquadra os programas LIFE, dos quatros répteis de água doce ocorrentes na região, apenas os cágados Emys orbicularis e Mauremys leprosa constam nos anexos II e IV onde estão mencionadas como espécies sujeitas a protecção rigorosa. Entretanto na actualizada lista da IUCN, Emys orbicularis tem o estatuto de "Quase ameaçado". A principal ameaça que os répteis de água doce enfrentam são a destruição e fragmentação do seu habitat aquático por agricultura e pecuária mais intensivas. Outras ameaças potencialmente negativas decorrem da introdução de espécies exóticas, tanto de tartarugas (e.g. Trachemys scripta) como de peixes (achigã).