Anfíbios

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Hyla molleri
Esta rela, que até há pouco tempo era considerada uma espécie europeia ocidental, veio a demonstrar-se ser um endemismo ibérico.
É um pequeno Anuro com 3,5 a 4,5 cm de comprimento e raramente ultrapassa os 5 cm. A cabeça é mais larga que comprida, com focinho curto e arredondando. Tem olhos proeminentes, com pupila horizontal elíptica e íris dourada. Tímpano pequeno, mas bem visível. Extremidades anteriores e posteriores compridas, com 4 e 5 dedos respetivamente. As relas possuem discos adesivos na ponta dos dedos, o que lhes permite trepar pela vegetação. Membranas interdigitais relativamente bem desenvolvidas nas patas posteriores.
A pele do dorso é muito brilhante e sem verrugas, de cor verde alface, algumas vezes apresenta matizes acastanhados ou amarelados, variando consoante o substrato, temperatura e humidade. Por serem de um tom verde claro, maioritariamente, próximo ao das plantas que crescem perto de água, passam facilmente despercebidas.
Possui uma longa banda negra lateral contínua e bem marcada desde o olho até às virilhas que a distingue bem da congénere Hyla meridionalis (rela-meridional). O ventre é esbranquiçado ou amarelo.
Existe dimorfismo sexual sendo que as fêmeas são geralmente maiores e mais robustas do que os machos. Os machos apresentam um grande saco vocal que, em repouso, surge como numerosas pregas de cor amarela na região da garganta, enquanto que as fêmeas têm a pele da garganta lisa e mais clara. Além disso, durante o período de reprodução, os machos apresentam pequenas rugosidades nupciais no primeiro dedo das patas anteriores.
Na época de acasalamento, o macho coaxa um intenso e sucessivo guec-guec-guec que se ouve bem à distância e não se confunde com a vocalização da competidora Hyla meridionalis.
Hyla molleri - Fotografia de Bruno H. Martins
Comportamento
É uma espécie de hábitos crepusculares e noturnos, embora possa apresentar atividade diurna nos dias chuvosos ou nublados. Durante o dia é frequente observarem-se exemplares expostos ao sol sobre a vegetação, nas proximidades dos Charcos Temporários Mediterrânicos.
Reprodução
A época de reprodução começa na primavera, quando os machos começam a migar para os locais de reprodução (Charcos Temporários). Nos locais de reprodução, os machos coaxam em coro, sendo muito territoriais. Ao coaxar, os machos exibem os seus sacos vocais nos meios aquáticos e atraem para ali as fêmeas, como se pode ver no filme.
créditos: Claudius Buser
A fecundação nos Anuros é externa. Os machos posicionam-se sobre a fêmea num abraço a que se chama de amplexo, para que consigam depositar o esperma, fecundando os ovos no momento em que a fêmea os deposita na base de plantas aquáticas ou envolvidos no lodo do fundo dos charcos, como se pode ver nas imagens 1 e 2.
O amplexo é axilar e ocorre dentro de água podendo demorar várias horas.
Imagem 1. Inicio da postura de Hyla molleri.
Fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal
Imagem 2. Postura de Hyla molleri.
Fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal
Cada fêmea pode depositar cerca de 200 a 1400 ovos, conforme a idade da fêmea, fazendo-o em pequenos aglomerados nos caules de plantas aquáticas.
Imagem 3. Ovos de Hyla molleri.
Fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal
Imagem 4. Embriões de Hyla molleri.
Fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal
Os girinos eclodem poucos dias depois e o desenvolvimento larval pode demorar entre 2 a 3 meses. Os recém-metamorfoseados têm cerca de 20mm de comprimento e podem não possuir a banda escura nos flancos.
Imagem 5. juvenil de Hyla molleri.
Fotografia de Vasco Flores Cruz em Anfíbios e Répteis de Portugal
A maturidade sexual é alcançada aos 3 ou 4 anos de vida e a longevidade máxima em meio natural é inferior aos 10 anos.
Alimentação
A dieta dos adultos inclui invertebrados diversos, nomeadamente, aranhas, moscas, formigas, pequenos escaravelhos, percevejos e centopeias. Os girinos alimentam-se de matéria vegetal e detritos.
Os seus principais predadores consistem em cobras-de-água e numerosas aves. Os girinos podem ser predados por cobras-de-água, larvas de libélula, escaravelhos aquáticos e, inclusivamente, larvas e adultos de outros anfíbios.
o principal mecanismo de defesa desta rela consiste na capacidade de mimetismo, uma vez que procura refúgio entre a vegetação, onde a sua coloração faz com que passe despercebida.
Ocorre em zonas húmidas com vegetação abundante devido aos seus hábitos trepadores, normalmente na vizinhança de charcos temporários, cursos de água, pântanos, lagos e lagoas.
Utiliza a vegetação como refúgio, sobretudo durante o dia.
Distribui-se por todo o território continental, mas a sul do rio Tejo esta rela tem uma ocorrência mais dispersa na metade ocidental do Alentejo e do Algarve.
Todavia há uma presença marcante e fortemente competitiva por parte da rela norteafricana Hyla meridionalis, espécie mais eclética que progressivamente vem ocupando os habitats mais propícios.
Nos locais partilhados por ambas, a Hyla meridionalis é quase sempre mais abundante que Hyla molleri.
Além da ameaça de exclusão competitiva por parte de H. meridionalis, há alguma possibilidade de contaminação genética por surgimento de híbridos não férteis. Esta situação provoca que algumas populações de H. molleri estejam localmente em declínio na área do Sudoeste de Portugal.
Outros fatores de ameaça decorrem da intensificação agrícola: destruição do habitat e contaminação das águas com produtos químicos.