"Charcos Temporários: um habitat natural a proteger!"

Crustáceos - Grandes Branquiópodes

> Tanymastix stagnalis

Ordem: Anostraca - “camarão-fada”


Os "camarões-fada", por tradução do inglês "fairy-shrimp", são crustáceos que, na sua maioria, vivem em sistemas temporários de água doce adaptados a condições muito concretas do meio aquático e com tolerâncias muito estreitas a determinados fatores ambientais sendo que por isso são considerados bons indicadores ecológicos.

Diferenciam-se dos restantes branquiópodes devido à ausência de carapaça. Esta espécie de crustáceo de água doce temporária pode atingir um comprimento máximo de 1,5cm.

Os crustáceos da ordem Anostraca, possuem sexos separados mas com um claro dimorfismo sexual, ou seja, os machos e as fêmeas têm um aspeto diferente. Os machos têm um par de pénis parcialmente retráteis e antenas desenvolvidas para agarrar a fêmea durante a cópula. As fêmeas têm antenas mais pequenas e possuem um ovissaco (saco de cistos a formar uma protuberância ventral). Nesta espécie o ovissaco é globular e raramente ultrapassa o 3º somito abdominal. Este saco de cistos é de cor avermelhada com uma mancha central refringente (de dourado a azul metálico). É neste ovissaco que os ovos amadurecem e são armazenados até à sua libertação, já como cistos. A imagem seguinte mostra uma fêmea com o saco de cistos.

Fêmea de Tanymastix stagnalis. Fotografia de Luís Guilherme Sousa

Macho de Tanymastix stagnalis. Fotografia de Luís Guilherme Sousa

Estes crustáceos de água-doce vivem em charcos temporários, onde existem menos predadores que em sistemas aquáticos permanentes. Uma caraterística muito interessante é que estes camarões-fada nadam livremente pela massa de água, de “barriga” para cima.

A deslocação, a respiração e a alimentação são feitas em conjunto mediante o batimento dos toracópodes que retiram partículas da coluna de água, como por exemplo, fitoplâncton, protozoários, detritos orgânicos ou até partículas de argila porque se encontram revestidas de bactérias e outros organismos microscópios que servem de alimento aos camarões-fada. Estes alimentos acumulam-se no canal alimentar e são empurrados para a boca com a ajuda dos primeiros toracópodes. A imagem seguinte mostra alguns pormenores da morfologia destes animais.

Ref: Adaptado de Alonso, M.1996. Crustacea, Branchiopoda. In Fauna Ibérica (eds, Ramos, M.A., Alba, J., Bellés, X., Gonsálbes, J., Guerra, A., Macpherson, E., Martin, F., Serrano, J. & Templado, J.), 7: 1-486. Museo Nacional de Ciencias Naturales-CSIC, Madrid.


Ciclo de vida:

A fase ativa do ciclo de vida desenrola-se na fase inicial de inundação do biótopo, prolongando-se, em condições ótimas, até perto dos 3 meses.  

Alimentação:

São filtradores porque nadam livremente na coluna de água "filtrando" o que encontram, nomeadamente fitoplâncton, protozoários, detritos orgânicos ou até partículas de argila porque estão revestidas de matéria orgânica e de organismos microscópios que lhes servem de alimento.

Reprodução:

A fecundação é interna e pode ocorrer múltiplas vezes ao longo do período de vida de cada fêmea adulta. Antes de os libertar, as fêmeas armazenam os cistos no ovissaco. Verificam-se, igualmente, posturas múltiplas. Os cistos têm a forma de lentilhas com o bordo aplanado; de cor castanho-avermelhada, são bem visíveis no ovissaco. O nº de cistos por postura está diretamente relacionado com o tamanho da fêmea.

Charcos temporários dulçaquícolas, nomeadamente Charcos Temporários Mediterrânicos (Habitat Prioritário 3170 – Diretiva 92/43/CEE).

Espécie paleártica. Em Portugal, registada no Minho, na bacia hidrográfica do Tejo, no Alto e Baixo Alentejo e no Algarve, nomeadamente na costa sudoeste desde Vila Nova de Milfontes até Vila do Bispo.

As ameaças à espécie estão diretamente relacionadas com a perda ou degradação de habitat.

Até à data, não apresenta estatuto legal de proteção.


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