Crustáceos - Grandes Branquiópodes

> Branchipus cortesi
Ordem: Anostraca - “camarão-fada”
Os "camarões-fada", por tradução do inglês "fairy-shrimp", são crustáceos que, na sua maioria, vivem em sistemas temporários de água doce, adaptados a condições muito concretas do meio aquático e com tolerâncias muito estreitas a determinados fatores ambientais sendo por isso são considerados bons indicadores ecológicos.
Diferenciam-se dos restantes branquiópodes devido à ausência de carapaça. Esta espécie de crustáceo de água doce temporária pode atingir um comprimento máximo de 2,2cm.
Os crustáceos da ordem Anostraca, possuem sexos separados mas com um claro dimorfismo sexual, ou seja, os machos e as fêmeas têm um aspeto diferente. Os machos têm um par de pénis parcialmente retráteis e antenas desenvolvidas para agarrar a fêmea durante a cópula. As fêmeas têm antenas mais pequenas e possuem um ovissaco (saco de cistos a formar uma protuberância ventral). Nesta espécie o pequeno ovissaco, limitado aos 2 primeiros somitos abdominais, tem uma cor muito escura, quase preta, com uma mancha central branca. É neste ovissaco que os ovos amadurecem e são armazenados até à sua libertação, já como cistos de forma poliédrica. A imagem A mostram uma fêmea com o saco de cistos e a imagem B mostra um macho.
Imagem A - Fêmea de Branchipus cortesi. Fotografia de Liliana Barosa (LPN)
Imagem B - Macho de Branchipus cortesi. Fotografia de Liliana Barosa (LPN)
Estes crustáceos de água doce vivem em charcos temporários, onde existem menos predadores que em sistemas aquáticos permanentes. Uma caraterística muito interessante é que os camarões-fada nadam livremente na coluna de água, de "barriga" para cima. A deslocação, a respiração e a alimentação são feitas em conjunto mediante o batimento dos toracópodes que retiram partículas da coluna de água, como por exemplo, fitoplâncton, protozoários, detritos orgânicos ou até partículas de argila porque se encontram revestidas de bactérias e outros organismos microscópios que servem de alimento aos camarões-fada. Estes alimentos acumulam-se no canal alimentar e são empurrados para a boca com a ajuda dos primeiros toracópodes. A imagem seguinte mostra alguns pormenores da morfologia destes animais.
Ref: Adaptado de Alonso, M.1996. Crustacea, Branchiopoda. In Fauna Ibérica (eds, Ramos, M.A., Alba, J., Bellés, X., Gonsálbes, J., Guerra, A., Macpherson, E., Martin, F., Serrano, J. & Templado, J.), 7: 1-486. Museo Nacional de Ciencias Naturales-CSIC, Madrid.
Ciclo de vida:
A fase ativa do ciclo de vida desenrola-se na fase inicial de inundação do biótopo, prolongando-se, em condições ótimas, até 4 meses.
Alimentação:
São filtradores porque nadam livremente na coluna de água "filtrando" o que encontram, nomeadamente fitoplâncton, protozoários, detritos orgânicos ou até partículas de argila porque estão revestidas de matéria orgânica e de organismos microscópios que lhes servem de alimento.
Reprodução:
A fecundação é interna e pode ocorrer múltiplas vezes ao longo do período de vida de cada fêmea adulta. Antes de libertar os cistos, as fêmeas armazenam os ovos no ovissaco até estes estarem maduros. Verificam-se, igualmente, posturas múltiplas. O número de cistos por postura está diretamente relacionado com o tamanho da fêmea.
Charcos temporários dulçaquícolas, nomeadamente Charcos Temporários Mediterrânicos (Habitat Prioritário 3170 – Diretiva 92/43/CEE).
É um endemismo ibérico, tendo sido registada nas bacias hidrográficas dos rios Douro, Tejo, Guadiana e Guadalquivir. Em Portugal foi registado na costa sudoeste, desde Vila Nova de Milfontes até Vila do Bispo, na região central alentejana e algarvia e na zona do Parque Natural do Vale do Guadiana.
As ameaças à espécie estão diretamente relacionadas com a perda ou degradação de habitat.
Até à data, não apresenta estatuto legal de proteção.