Crustáceos - Grandes Branquiópodes

> Cyzicus grubei
Ordem: Spinicaudata - “camarão-concha”
A ordem Spinicaudata apareceu à acerca de 400 milhões de anos e estão distribuídos por quase todo o planeta à exceção da Antártida. A maioria das espécies desta ordem coloniza corpos de água doce e temporária com pouca profundidade e frequentemente lamacentos, ou seja, charcos temporários.
São organismos que têm o corpo coberto por duas valvas ovais a formar uma carapaça um pouco achatada. A imagem seguinte mostra a morfologia geral desta ordem de crustáceos e que no, caso dos Charcos Temporários Mediterrânicos de Portugal estão representados por duas espécies: Cyzicus grubei e Maghrebestheria maroccana.
No caso de Cyzicus grubei, a carapaça é de cor castanho-avermelhada e tem um comprimento máximo de 15mm. Os sexos são separados.
Ref: Adaptado de Alonso, M.1996. Crustacea, Branchiopoda. In Fauna Ibérica (eds, Ramos, M.A., Alba, J., Bellés, X., Gonsálbes, J., Guerra, A., Macpherson, E., Martin, F., Serrano, J. & Templado, J.), 7: 1-486. Museo Nacional de Ciencias Naturales-CSIC, Madrid.
Imagem de um conjunto de Cyzicus grubei.
Fotografia de Elisabete Rodrigues | Sul Informação
A seguir, imagens de Cyzicus grubei a movimentar-se. Cortesia de Horácio Costa
Ciclo de vida:
A fase ativa do ciclo de vida desenrola-se ao longo de toda a fase de inundação do biótopo, podendo durar 8-9 meses. Nas valvas podemos estimar a sua idade através das linhas de crescimento como ilustra a imagem seguinte:
Detalhe das linhas de crescimento da carapaça de Cyzicus grubei (Simon, 1886). Adaptado de Alonso, M.1996. Crustacea, Branchiopoda. In Fauna Ibérica (eds, Ramos, M.A., Alba, J., Bellés, X., Gonsálbes, J., Guerra, A., Macpherson, E., Martin, F., Serrano, J. & Templado, J.), 7: 1-486. Museo Nacional de Ciencias Naturales-CSIC, Madrid.
Alimentação:
São essencialmente detritívoros apesar de por vezes filtrarem algumas algas. Nas águas mais lamacentas podem ingerir partículas de argila para aproveitar a matéria orgânica absorvida a elas aderida.
Reprodução:
A maturidade sexual é atingida em cerca de 3 meses. A fecundação é interna e pode ocorrer múltiplas vezes ao longo do período de vida de cada fêmea adulta. Durante a cópula, macho e fêmea unem-se ventralmente, ficando os corpos perpendiculares entre si. Antes de os libertar, a fêmea armazena os cistos (ovos resistentes à dessecação) num par de massas laminares fixadas ao 9º e 10º pares de toracópodes. Verificam-se, igualmente, posturas múltiplas. O número de cistos por postura está diretamente relacionado com o tamanho da fêmea.
Cistos (ovos) de Cyzicus grubei. Fotografia de Margarida Cristo
Juvenil de Cyzicus grubei. Fotografia de Margarida Cristo
Outras características:
Passam grande parte do tempo sobre o fundo. Resistem a baixas concentrações de oxigénio.
Charcos temporários dulçaquícolas, nomeadamente Charcos Temporários Mediterrânicos (Habitat Prioritário 3170 – Diretiva 92/43/CEE). Têm preferência por charcos relativamente pouco profundos e lamacentos, de longo hidroperíodo.
É um endemismo Ibero-balear, tendo sido registado nas bacias hidrográficas dos rios Douro, Tejo, Guadiana e Guadalquivir e numa única localidade da Ilha Minorca. Em Portugal foi registado nas faixas central e oriental do distrito de Beja e nos extremos sudoeste e sueste do Algarve.
As ameaças à espécie estão diretamente relacionadas com a perda ou degradação do seu habitat. Até à data, não apresenta estatuto legal de proteção.